Intercambistas do Ciência Sem Fronteiras foram surpreendidos com a carta do órgão responsável por repassar suas verbas de auxílio - O Institute of International Education (IIE). Os jovens foram aconselhados a dar um “jeitinho brasileiro” para pagar suas despesas por conta do atraso do pagamento que poderia acontecer. O caso afetou também um estudante pelotense.

O jovem de 22 anos que mora desde agosto do ano passado em Savannah - no estado da Geórgia, nos Estados Unidos - não quis ser identificado para não preocupar a família, mas conta que é um dos prejudicados pela situação. Os auxílios recebidos são repassados pelo Instituto, órgão dos Estados Unidos, mas são oriundos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), do Ministério da Educação, responsável pelo Ciência sem Fronteira.

Ele conta que o dinheiro que recebe de três em três meses é o suficiente para se manter em sua universidade atual - Savannah College of Art and Design. Mas as dificuldades começaram depois que buscou um estágio em Nova York para o período de verão, conforme incentivou o próprio IIE. O Instituto é responsável por pagar o housing (moradia), meal plan (refeição) e dinheiro para as passagens, mas até o momento o depósito não foi feito. A única manifestação foi por meio da carta, vista como desrespeitosa pelos estudantes.

Em entrevista ao Diário Popular, o estudante contou um pouco do seu caso e seu sentimento diante da situação.
DP - Como tu te manténs fora do Brasil?
Estudante - Eu recebo da Capes uma mensalidade de três em três meses. É tranquilo pois aqui na minha faculdade a gente tem direito a três refeições por dia, housing (moradia) pago e transporte. Basicamente a mensalidade serve pra pagar custos extras, como remédio ou gasto com material.

DP - E onde entra o IIE nisso?
Estudante - Eles são os responsáveis pelo pagamento no período do verão. Aí mora o problema. Nós temos que receber mais 1.600 dólares pra alimentação, transporte, passagem e moradia. Além disso, no meu caso, tenho que ir atrás de moradia em Nova York por conta própria, pois eles não se responsabilizam por isso. E depois aplicar pra ser aceito lá. Eu consegui uma vaga e também corro risco de perder por conta da demora do IIE pra dar a confirmação no processo.

DP - Qual é o teu sentimento diante dessa situação?
Estudante - Cansaço. Pois o que faço aqui é estudar, estudar e estudar. E tem sido lindo, pois tenho aprendido muito, feito contatos, amizades, melhorado meu portfólio. Mas o lado ruim agora tá pesando. Desde a época da procura do estágio eu tenho feito a minha obrigação e suado pra conseguir ser eficiente, pois eu sei o que isso aqui tudo custa e eu não teria condições de viver isso. Mas aí fico triste por saber que alguém foi capaz de se achar no direito de escrever aquele e-mail.

DP - Tem mais gente na mesma situação perto de ti?
Estudante - Muita gente. Tenho uma amiga que vai pra Califórnia, conseguiu estágio e não recebeu a aprovação ainda. Outra que conseguiu o estágio e o IIE não aprovou. Ele alega que tem muito brasileiro naquele lugar. É revoltante.

DP - E a capes, se manifestou?
Estudante - Não…

DP - Se tu ficar em Savannah a coisa se mantém tranquila?
Estudante - Sim, pois aqui eu me sinto em casa. Pra mim essa é a melhor faculdade da minha área dos Estados Unidos. Mas esse estágio é realmente importante pra mim. Eu liguei pra 40 empresas até conseguir três respostas e essa que me contratou é muito legal. Fico com pena de perder. isso definitivamente vai somar na minha carreira.

DP - E tu te arriscarias a viajar, mesmo se nada for resolvido até o dia 30?
Estudante - Olha, eu ainda não sei. Eu vou mandar um e-mail pro meu chefe em NYC e ver com ele se existe alguma outra alternativa. Também tenho alguns amigos lá. Mas eu não me sinto confortável em ir assim...